No passado dia 22 de Novembro
de 2012, a SIC Mulher emitiu, durante a sua programação, um curto segmento do
programa “Mais Mulher” que dedicou ao tema “Poliamor”. Durante este segmento,
Ana Rita Clara, a apresentadora, fez algumas perguntas a Pedro Lucas (director
da revista Men’s Health), que retirava e fornecia as respostas a partir de uma
fonte desconhecida.
O grupo PolyPortugal vem por
este meio apresentar o seu repúdio pelos conteúdos de desinformação veiculados
durante este programa, bem como pelo formato de apresentação dos mesmos.
Consideramos que a forma como o conceito foi apresentado não corresponde a um
mínimo de profissionalismo por parte dos profissionais de comunicação
envolvidos no programa, especialmente se tomarmos em consideração que até uma
rápida consulta pela Wikipédia teria trazido melhores e mais exactas
informações do que as apresentadas.
É particularmente grave – e
principal ponto de contenção desta carta – a perspectiva machista, patriarcal e
homofóbica de que poliamor é “quando um homem tem várias mulheres e elas não se
importam”. Esta suposta definição, que não encontra suporte em qualquer
dicionário ou exploração académica, ignora o facto de que existem mulheres –
muitas, proactivas e auto-determinadas, que fazem mais do que meramente
“aceitar” aquilo que um homem deseja – em relações poliamorosas com vários
homens, mulheres em relações poliamorosas com várias mulheres, mulheres em relações
poliamorosas com vários homens e mulheres, pessoas transexuais e transgénero
que não se identificam enquanto homens nem enquanto mulheres. Ignora também que
existem igualmente homens em relações poliamorosas apenas com outros homens, ou
com homens e mulheres. O que torna, por conseguinte, incompreensível o uso de
uma expressão como “homem poliamor”.
Na sua pressa de se dirigir
“às mulheres”, e de querer mostrar o que é ser “Mais Mulher”, o programa voltou
a utilizar imagens objectificantes, retirando às mulheres a sua voz e a sua
capacidade de auto-decisão; a usar o sarcasmo e a ironia ao mesmo tempo que
alega “respeitar as decisões de cada pessoa”; a patologizar e diminuir as
pessoas poliamorosas ao cruzar poliamor com “solidão”. Ser “Mais Mulher” parece
não passar, para a SIC Mulher, por perceber que uma mulher pode efectivamente
desejar estabelecer relações amorosas e/ou sexuais com mais do que uma pessoa
ao mesmo tempo (por vezes, até, independentemente do sexo ou género dessas
pessoas); e parece passar por falar do “verdadeiro homem” que “está só com uma
mulher”, convocando o binarismo de género para elidir as experiências de tantas
e tantos portuguesas e portugueses.
O PolyPortugal identifica-se
como um grupo heterogéneo e defende a liberdade e a diversidade, tanto a nível
sexual como relacional. O PolyPortugal esteve associado à organização da
primeira Marcha do Orgulho LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e
Transgéneros/Transexuais) do Porto, onde continuou a participar nos anos
subsequentes, bem como na de Lisboa. O PolyPortugal tem também vindo a
associar-se a outras iniciativas e grupos feministas. Por tudo o acima exposto,
e assumindo o seu feminismo, o PolyPortugal não se revê em nenhum do conteúdo
apresentado neste programa.
O PolyPortugal ademais
recomenda que neste, como em qualquer outro assunto, os profissionais a cargo
de contactar com o público assumam a responsabilidade ligada à sua actividade
profissional, e se informem, ou busquem quem seja capaz de fornecer informação
sobre um tema, ao invés de replicarem e alimentarem discriminação e
desinformação.
O
grupo PolyPortugal
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