sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Carta aberta do PolyPortugal à SIC Mulher

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No passado dia 22 de Novembro de 2012, a SIC Mulher emitiu, durante a sua programação, um curto segmento do programa “Mais Mulher” que dedicou ao tema “Poliamor”. Durante este segmento, Ana Rita Clara, a apresentadora, fez algumas perguntas a Pedro Lucas (director da revista Men’s Health), que retirava e fornecia as respostas a partir de uma fonte desconhecida.



O grupo PolyPortugal vem por este meio apresentar o seu repúdio pelos conteúdos de desinformação veiculados durante este programa, bem como pelo formato de apresentação dos mesmos. Consideramos que a forma como o conceito foi apresentado não corresponde a um mínimo de profissionalismo por parte dos profissionais de comunicação envolvidos no programa, especialmente se tomarmos em consideração que até uma rápida consulta pela Wikipédia teria trazido melhores e mais exactas informações do que as apresentadas.

É particularmente grave – e principal ponto de contenção desta carta – a perspectiva machista, patriarcal e homofóbica de que poliamor é “quando um homem tem várias mulheres e elas não se importam”. Esta suposta definição, que não encontra suporte em qualquer dicionário ou exploração académica, ignora o facto de que existem mulheres – muitas, proactivas e auto-determinadas, que fazem mais do que meramente “aceitar” aquilo que um homem deseja – em relações poliamorosas com vários homens, mulheres em relações poliamorosas com várias mulheres, mulheres em relações poliamorosas com vários homens e mulheres, pessoas transexuais e transgénero que não se identificam enquanto homens nem enquanto mulheres. Ignora também que existem igualmente homens em relações poliamorosas apenas com outros homens, ou com homens e mulheres. O que torna, por conseguinte, incompreensível o uso de uma expressão como “homem poliamor”.

Na sua pressa de se dirigir “às mulheres”, e de querer mostrar o que é ser “Mais Mulher”, o programa voltou a utilizar imagens objectificantes, retirando às mulheres a sua voz e a sua capacidade de auto-decisão; a usar o sarcasmo e a ironia ao mesmo tempo que alega “respeitar as decisões de cada pessoa”; a patologizar e diminuir as pessoas poliamorosas ao cruzar poliamor com “solidão”. Ser “Mais Mulher” parece não passar, para a SIC Mulher, por perceber que uma mulher pode efectivamente desejar estabelecer relações amorosas e/ou sexuais com mais do que uma pessoa ao mesmo tempo (por vezes, até, independentemente do sexo ou género dessas pessoas); e parece passar por falar do “verdadeiro homem” que “está só com uma mulher”, convocando o binarismo de género para elidir as experiências de tantas e tantos portuguesas e portugueses.

O PolyPortugal identifica-se como um grupo heterogéneo e defende a liberdade e a diversidade, tanto a nível sexual como relacional. O PolyPortugal esteve associado à organização da primeira Marcha do Orgulho LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgéneros/Transexuais) do Porto, onde continuou a participar nos anos subsequentes, bem como na de Lisboa. O PolyPortugal tem também vindo a associar-se a outras iniciativas e grupos feministas. Por tudo o acima exposto, e assumindo o seu feminismo, o PolyPortugal não se revê em nenhum do conteúdo apresentado neste programa.

O PolyPortugal ademais recomenda que neste, como em qualquer outro assunto, os profissionais a cargo de contactar com o público assumam a responsabilidade ligada à sua actividade profissional, e se informem, ou busquem quem seja capaz de fornecer informação sobre um tema, ao invés de replicarem e alimentarem discriminação e desinformação.

O grupo PolyPortugal

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