SlutWalk Porto: www.slutwalkporto.wordpress.com
SlutWalk Lisboa: www.slutwalklisboa.wordpress.com
SlutWalk* Portugal
* SLUT, galdéria, desavergonhada, puta, descarada, vadia, badalhoca, fácil
Em Janeiro
de 2011 um polícia afirmou em Toronto que as mulheres devem evitar
vestir-se de forma provocante se não quiserem ser violadas. Um ano
depois, Portugal junta-se pela segunda vez à vaga de indignação que esta
afirmação causou um pouco por todo o mundo, através da SLUTwalk Porto e
da SLUTwalk Lisboa.
A SlutWalk
tem como base a recusa da culpabilização das vítimas de violência sexual
e de género; a recusa da vergonha pela afirmação da auto-determinação
sexual de cada pessoa; a recusa dos moralismos sobre as várias
expressões de sexualidade e não-sexualidade existentes, desde que
exercidas com o consenso de todas as pessoas envolvidas.
Uma SLUT
(galdéria, desavergonhada, puta, descarada, vadia, badalhoca, fácil) é
qualquer pessoa que pretende afirmar o direito ao seu próprio corpo, o
direito à(s) sua(s) sexualidade(s) (ou ausência dela(s)), o direito a
vestir-se como bem entende, o direito a expressar-se livre e
responsavelmente – e que, por isso, é insultada, agredida, discriminada,
atacada. Não existe um comportamento típico da SLUT.
A SlutWalk
pretende reclamar as palavras usadas para insultar, magoar e discriminar
todas essas pessoas, reclamar o direito à não-moralização de quem é
“fácil”, “difícil” ou “assim-assim” – e à violência de género associada.
Temos a noção de que nem todas as pessoas se encontram em posição de
poder reclamar esta e outras palavras. Temos a noção de que nem todas as
pessoas são agredidas com estas palavras em específico. Ainda assim,
defendemos que a recuperação de palavras agressoras é uma estratégia
válida e possível, a par de outras – e que deve ser desenvolvida em
conjunto com as lutas de quem não o pode ou deseja fazer.
A SlutWalk
não pretende falar por todas as mulheres, ou por todas as pessoas. As
diferentes experiências de etnia, estatuto sócio-económico, cultura,
religião, configuração corporal e de género, etc, não se prestam a isso.
Mas, ainda assim, a experiência de se ser chamada galdéria,
desavergonhada, puta, descarada, vadia, badalhoca ou fácil está bastante
disseminada em Portugal, e faz parte de uma dinâmica mais abrangente de
discriminação e opressão patriarcal.
As pessoas
envolvidas na SlutWalk são feministas – mulheres, trans*, homens,
genderqueer, entre outras identidades. O feminismo não trata apenas de
‘direitos das mulheres’, trata da dignidade humana para todas as
pessoas, independentemente do seu sexo ou género. É essa dignidade que é
violada quando se culpam as vítimas de violência sexual e de género,
quando se atacam pessoas por aquilo que elas fazem com o seu próprio
corpo, tempo, roupa, palavras e atitudes.
Convém, no
entanto, não esquecer que as mulheres* são ainda as mais claramente
visadas pela violência de género: em 2011, mais de meia centena de
mulheres foram vítimas de homicídio ou tentativa de homicídio por parte
de companheirxs ou esposxs (dados da UMAR) e 40% das mulheres com mais
de 60 anos também é alvo de abusos (dados da Univ. do Minho). O corpo de
qualquer pessoa deve ser propriedade da própria pessoa. Recusamos a
existência de proprietários de primeira (geralmente, homens), de segunda
(geralmente, mulheres) e de terceira (geralmente, pessoas trans*).
Se
SLUT – galdéria, desavergonhada, puta, descarada, vadia, badalhoca,
fácil – é uma pessoa que decide sobre o seu corpo, sobre a sua
sexualidade, e que procura prazer (nas suas várias formas), então, somos
SLUTs, sim!
Não
queremos piropos sexistas, não queremos paternalismo, não queremos
violência sexual. Dizemos não, por mais cidadania. Dizemos não, por mais
democracia. Dizemos não, pela possibilidade de todas as pessoas poderem
habitar os espaços públicos e privados em igual segurança, com igual
respeito. Dizemos não à dominação patriarcal do espaço físico onde as
mulheres* se movimentam. Dizemos não, por mais liberdade.
Se ponho um decote… Não é Não!
Se pus aquelas calças de que tanto gostas… Não é Não!
Se visto calções ou mini-saia … Não é Não!
Se uso burqa… Não é Não!
Se tenho as mamas à mostra … Não é Não!
Se durmo com quem me apetece… Não é Não!
Se sou virgem… Não é Não!
Se tenho mais de 60 anos … Não é Não!
Se passo naquela rua… Não é Não!
Se vamos para os copos… Não é Não!
Se me sinto vulnerável… Não é Não!
Se sou deficiente… Não é Não!
Se saio com xs maiores galdérixs…Não é Não!
Se ontem dormi contigo… Não é Não!
Se sou trabalhadora sexual… Não é Não!
Se és meu chefe… Não é Não!
Se somos casadxs, companheirxs, namoradxs… Não é Não!
Se sou tua paciente… Não é Não!
Se sou tua parente… Não é Não!
Se sou imigrante ilegal… Não é Não!
Se tenho relações poliamorosas… Não é Não!
Se sou empregada de hotel… Não é Não!
Se tens dúvidas se aquilo foi um sim, então… Não é Não!
Se és padre, imã, rabi ou pujari… Não é Não!
Se beijo outra mulher no meio da rua… Não é Não!
Se a pessoa com quem estou agora gosta de sexo a três… Não é Não!
Se sou brasileira, cabo-verdiana, angolana ou de outro país que sofreu colonização… Não é Não!
Se tenho mamas e pila… Não é Não!
Se disse sim e já não me apetece… Não é Não!
Se sou empregada doméstica… Não é Não!
Se adoro ver pornografia… Não é Não!
Se ando à boleia… Não é Não!
Se estamos numa festa swing, numa sex party ou numa cena BDSM… Não é Não!
Se já abrimos o preservativo… Não é Não!
NÃO é sempre NÃO. Quando é SIM, não há ambiguidades ou dúvidas porque sabemos o que queremos e sabemos ser clarxs.