A maior parte de nós procura ter relações duradouras. Não que sejam o único tipo de relação interessante mas provavelmente porque só é possível construí-las com pessoas especiais para nós, e um nível de compatibilidade muito alto não é frequente encontrar a uma distância decente.
Quando alguém se envolve num novo relacionamento, e durante os dias, semanas ou mesmo meses que se seguem, é bastante comum não se acreditar inteiramente nessa relação, pelo simples facto de estar no início. Parece fazer sentido, esta precaução. Mas não será prejudicial para o próprio desenvolvimento da coisa?
Por outro lado, será produtivo acreditar logo de início que uma nova relação vai ser para a vida? Eu diria que há uma razoável probabilidade de uma atitude assim conduzir a maus resultados. E as pessoas têm, geralmente, medo de falhar.
Olhem, falhar é bom. Ou, de uma forma menos radical, como diria o Adam Savage do MythBusters, «falhar é sempre uma opção».
O director de pesquisa da Google, Peter Norvig, explicou recentemente, a propósito dos projectos falhados da empresa (o mais recente flop é o Google Wave) que «um engenheiro quer essencialmente estar errado metade das vezes; se todas as nossas experiências estiverem certas, não estamos a retirar delas informação suficiente».
Pois acontece o mesmo com as relações afectivas, ou devia acontecer.
Parafraseando a tirada brilhante do próprio CEO da Google, Eric Shmidt, é preciso sabermos celebrar os nossos falhanços. Por isso, estou convencido que vale sempre a pena atirarmo-nos de cabeça — desde que saibamos à partida que há uma probabilidade não negligenciável de, por isso mesmo, cairmos de cabeça; e que saibamos aceitá-lo com a leveza de quem gosta de aprender.
Vale a pena ver o vídeo que me inspirou, onde Eric Schmidt fala do Google Wave:
Quando alguém se envolve num novo relacionamento, e durante os dias, semanas ou mesmo meses que se seguem, é bastante comum não se acreditar inteiramente nessa relação, pelo simples facto de estar no início. Parece fazer sentido, esta precaução. Mas não será prejudicial para o próprio desenvolvimento da coisa?
Por outro lado, será produtivo acreditar logo de início que uma nova relação vai ser para a vida? Eu diria que há uma razoável probabilidade de uma atitude assim conduzir a maus resultados. E as pessoas têm, geralmente, medo de falhar.
Olhem, falhar é bom. Ou, de uma forma menos radical, como diria o Adam Savage do MythBusters, «falhar é sempre uma opção».
O director de pesquisa da Google, Peter Norvig, explicou recentemente, a propósito dos projectos falhados da empresa (o mais recente flop é o Google Wave) que «um engenheiro quer essencialmente estar errado metade das vezes; se todas as nossas experiências estiverem certas, não estamos a retirar delas informação suficiente».
Pois acontece o mesmo com as relações afectivas, ou devia acontecer.
Parafraseando a tirada brilhante do próprio CEO da Google, Eric Shmidt, é preciso sabermos celebrar os nossos falhanços. Por isso, estou convencido que vale sempre a pena atirarmo-nos de cabeça — desde que saibamos à partida que há uma probabilidade não negligenciável de, por isso mesmo, cairmos de cabeça; e que saibamos aceitá-lo com a leveza de quem gosta de aprender.
Vale a pena ver o vídeo que me inspirou, onde Eric Schmidt fala do Google Wave:
8 comentários:
Acho importante vermos esses dois lados da questão, mas também que o "correr bem" e "correr mal" tem muito que ver com outras coisas para além dessas compatibilidades: com esforço, com dedicação, com a forma como lidamos com as incompatibilidades que eventualmente surgem.
Completamente de acordo, Daniel. Eu diria, no entanto, que isso de que falas é mais frequentemente abordado do que a perspectiva do «falhanço produtivo». E, talvez por isso, menos polémico e mais fácil de assumir.
As vezes, há quem confunda sacrifício com investimento, e as pessoas não estando bem numa relação continuam nela porque dizem que investiram tanto, e quanto mais custa, mais sofrem, logo mais 'investimento'.
Identifico-me tanto com a última questão. Não porque o considere um sacrifício, mas porque já existiram alturas em que me apeteceu sair da relação onde estou.
Se não amasse tanto a pessoa em questão, e ela a mim, provavelmente, ambas as partes já teriam "abandonado o edifício". O que importa, é compreender que, permaneça ou não com ela, sabemos que o tempo "investido" (e não gosto mto desta palavra) foi importante para as duas partes. Quer ele se prolongue, ou não.
Cláudia
Uma vez uma amiga disse-me. "Se numa relação tu não ganhas aquilo que sentes merecer, é provável que o comeces a roubar".
Abandonar o edifício pode ser um profundo acto de amor, na medida em que:
1- Amor próprio: te defendes de uma situação em que realmente é difícil distinguir o que é a "dedicação" do que é o "vício" (geralmente responder à pergunta "Sinto-me miserável quase todos os dias?" ajuda).
2- Amor a outrem: dar um bom par de estalos a alguém ÀS VEZES (e em último caso) é o melhor que podemos fazer por essa pessoa.
Já tive relações de semanas que me mudaram completamente, outras de anos. Para todas parto de cabeça, sendo que ultimamente levo capacete.
Nunca falhei. Não sei o que isso seja. As relações acabaram e eu aprendi quanto pude com cada pessoa. Quanto mais me entreguei, mais cheguei a aprender. Absorvo o conhecimento do outro e não tenho problemas com a sua diferença. Não valorizo apenas a compatibilidade. Claro que essa é a parte "fácil" ou seja a que sustenta a relação, o apoio. Depois há a parte difícil, que é a parte dinâmica, a que nos rebenta com os limites para os alargar. Não é a curte total? Para mim é. Mas tens de ver se te é "útil".
Todas as pessoas pelas quais passei me moldaram, porque as deixei. Porque as escolhi para me influenciarem e me esculpirem. Mas fui eu que criei o espaço para elas entrarem e fiz isto não apenas pelo absoluto prazer da sua companhia, mas também porque vivo o amor como uma espécie de universidade. Tive fé nelas e naquilo que me poderiam ensinar se eu as deixasse, se eu olhasse para elas como "mestres", o que realmente me acontece.
"Sacrifício" é palavra que abomino. Cheia de manipulações, vitimizações, poder camuflado de generosidade. Não.
"Negociação" é a palavra de que gosto. Negociação, investimento, esforço, dedicação, cuidado, entrega, confiança, coragem, integridade. Limpeza. É o meu campo semântico amoroso.
"Amar tanto" ao ponto de andar a fazer dieta à base de engolir sapos, não pode ser "amar tanto". (continua)
(Continuação)
E como "o suicida amor cortês" é tema em que sou fluente, aqui deixo uma referência que me pareceu clara:
"É justamente para sublinhar a natureza não espiritual destas ordálias que Lacan refere um poema acerca de uma dama que pediu ao seu servo que literalmente lhe lambesse o rabo: o poema compõe-se das queixas do poeta sobre os maus cheiros que por isso o esperam (conhecido que é o deficiente quadro da higiene pessoal na Idade Media), sobre o perigo eminente de a Dama lhe urinar na cabeça enquanto estiver a cumprir o seu dever... A Dama encontra-se deste modo, o mais longe que se possa imaginar de qualquer espiritualidade purificada (...) por completo incomensurável com os nossos desejos e necessidades." (ZIZEK, Slavoj, "As Metástases Do Gozo", 1994, Relógio d'Água, Lisboa, p.18)
Dar tudo, mas não ficar sem nada. Eu devo ser realmente "provider" e dou a minha despensa completa, mas não posso ficar sem arroz pessoal. Por isso, lugar comum: "dar e receber". Não acredito noutro sistema, sendo que de presentes toda a gente gosta, mas "dar"? dar genuinamente, dar porque podes dar: ufa... isso é um prazer exquis (No entanto, é difícil comprar caviar).
Na medida em que podemos fazê-lo devemos "dar", "investir", "esforçar", mas atenção, temos de ganhar qualquer coisa. É a lei do trabalho. E ainda que penses que não ganhas nada, desengana-te, ganhas sempre. Às vezes "juízo". Outras vezes "uma sensação questionável de poder". Mas o melhor de tudo é o "amor", sendo que "crescimento pessoal", está sempre garantido.
Há pessoas que não se mandam. Essas fazem-me uma confusão tremenda. Porque parece-me a mim que é o mesmo que ter o dinheiro para comprar um gelado num dia de calor e não o fazer porque se tem medo da cárie. Ó pá, traz uma escova de dentes e já está.
Beijo, a resposta é longa de acordo ao meu interesse na questão.
Gosto muito.
Falhar não é falhar
É estar
e aprender
Falhar é não calar
um amor
que se amanha.
Falhar é querer.
"Aprendi tanto com os meus erros, que até estou a pensar em cometer mais alguns."
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