terça-feira, 5 de janeiro de 2010

«O tic-tac do meu coração»

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Na minha festa de aniversário do ano passado tive um momento «tão bonito que me senti meio anirvanado», como escrevi na altura. Eu, uma amiga por quem me sentia muito atraído e um grande amigo dela que conheci na altura estivemos em troca de carinhos num V que terá sido talvez a minha primeira situação poly-indeed. Sim, era polivirgem, apesar de ter já trinta anos de defesa de uma coisa que só quase cinquentão viria a saber chamar-se «poliamor». Aquele momento foi, para um poliamorista, o equivalente ao primeiro beijo para um adolescente (e nem beijo houve, reparem!).

Agora, no fim-de-ano, voltei a encontrar-me com essa minha amiga e tive o meu primeiro threesome. Não vou contar aqui pormenores. Digo apenas que me senti novamente «meio anirvanado» por ver as outras duas pessoas tão enamoradamente enleadas. Compersão pura.

O que acontece num fim-de-ano pode ser encarado como um rito de passagem se, na ficção que cada um vai fazendo da sua própria vida, quiser encaixar essa interpretação.

Não estivesse eu, neste momento, mal por dentro, e comigo próprio (por ter descoberto há quinze dias uma característica em mim que não me lembro de conhecer e que não me agrada minimamente; e por não saber se a coisa passa ou veio para ficar; e por não saber ainda se devo falar disso seja a quem for — logo eu, que nunca tive problemas em esventrar-me e mostrar as mais sórdidas entranhas)… Se, dizia eu, não andasse com esse peso pendurado aos ombros e a puxar-me para baixo, ainda mais acrescido do lastro do «desemprego», estaria agora com o «tic-tac do meu coração» a bater fortemente em Allegro vivace con fuoco.

Mas a ideia de que cumpri um rito de passagem deixou-me pelo menos suficientemente autoconfiante para poder ouvir uma música divertida com uma letra triste e simplesmente adorar a música, a ponto de me puxar uma alegre lagrimeta de felicidade. E pronto, hoje é isto que me apetece partilhar.

«Tic-tac do meu coração», uma canção com setenta anos, dos compositores de MPB Alcyr Pires Vermelho e Valfrido Silva, celebrizada pela meio-portuguesa Carmen Miranda, e aqui numa fantástica interpretação de uma cantora paulista genial mas quase desconhecida em Portugal: Ná Ozzetti.


E, já agora, aqui fica a própria Carmen Miranda, no papel de Rosita Murphy, a cantar o «Tic-tac …» no filme americano Springtime in the Rockies ("A minha secretária brasileira"), de 1942:

1 comentário:

Anónimo disse...

Também eu cumpri esse rito recentemente... anirvanado é o termo :D andei assim durante dias hehehe